domingo, 26 de dezembro de 2010

Prólogo - Saga Irreversível

Queria comemorar esse teto novo. A minha primeira visão quando acordo, essa infiltração deixa as paredes geladas e esse quarto mais frio ainda.

Não posso reclamar, os dias que passei na prisão foram bem piores, acredito eu. O medo que eu tinha de acordar e olhar para o lado são bem menores depois desses ano. Eu me tornei uma pessoa fria, assim como esse quarto. Tudo bem, vou comer algo.

Essa cozinha é bem maior do que a da outra casa. Minha Mãe parece mais cansada, mais velha. Mesmo que só tenha passado 4 anos, o que ela passou em 1 deve ter envelhecido ela em mais alguns, assistir ao vivo um filho matar o outro. Eu mesmo não suportaria. Mas ela me entende, ficou do meu lado o tempo todo, e ainda consegue abrir esse lindo sorriso quando me vê com os olhos fechados, como quem acabou de acordar.

Pareço um adolescente sem vida ainda, mal acordei, e já liguei o computador. Mas mal consigo fazer alguma coisa, apesar dos anos, ainda recebo milhares e milhares de e-mails todos os dias. Tenho milhares de amigos no Facebook, e é quase impossível visitar um shopping ou qualquer local publico. Uns acham que sou um herói, que fiz o que tinha que fazer, e que ainda serei util. Outros, acham que sou assassino, frio e calculista. Mas o que eu acho? Na verdade nem sei.

Abro sites de noticias, pararam um pouco de falar do tal navio parado no porto de Santos desde o dia em que Brian reapareceu, e sumiu novamente. Ele seria a chave, seria as respostas. Mas ele tem o dom de desaparecer sem deixar rastros. Talvez os gêmeos pudessem ajudar, mas como eu falaria com eles? Eu queria chamar eles para o Kazebre hoje, vai tocar o CPM22, sempre gostamos dessa banda. Eu não sei em qual centro de recuperação Juan esta. Desde que Brian e Luan sumiram, e ele optou por ficar, se afundou mais e mais nas drogas.

Odeio esse sofá, ele é bem mais duro, parece que a qualidade das coisas pioram com o tempo. E esse controle remoto? Vive sem pilhas. Tudo bem, eu me levanto para ligar a TV eu mesmo.

Outra vez esses caras? Renegados? Um bando de nerds que querem aparecer. Os jornais sempre falam deles. Dizem que é um grupo de adolescentes que lutam por um mundo melhor, criados depois da morte de Dan, para que as ameaças fossem combatidas. Dizem que treinam muito e arduamente, eles tem medo. O medo que eu tenho e o medo que todos tem, medo do que possa sair do navio de Santos. Por isso eles não param de me procurar, nunca me deixam em paz, como se eu fosse um líder para eles. Líder de que? De um grupo de adolescentes que segundo eles, estão se preparando para a "batalha final", essa galera assiste filmes demais. Mas não posso deixar de pensar, no que Brian disse. Que o criador da espada achou o Brasil, Dan não era o inimigo e que precisamos estar prontos. Ok, ok, ok. Eu assumo, ando treinando, ando treinando bastante, já sei lutar bem mais, e desde meu contato com a espada, minha força é maior, meu pensamento é mais ágil e me supero cada dia mais. Mas fiz isso para me superar. Ou superar ela.

Ligo para Kau? Hum, melhor não. Ela vai me achar um perdedor e achar que ainda quero ficar com Sill. E é a verdade, mas não quero que ela pense isso. Me disseram que com o tempo, se eu for frio, o que tem que acontecer, vai acontecer.

É o caralho! Acordo todos os dias querendo que aconteça todos os dias, que seja tudo, ou que seja nada. Queria resolver isso, mas não com ela, queria resolver comigo. Será que estou perdendo o controle? E se eu tivesse sido cortado com a espada? Ficaria como Dan? Acho que preciso de uma viagem, de férias. Essa faculdade me deixou completamente maluco. Pensando bem, estou seguindo os passos de Dan. Melhor eu sair para refletir.

Sair. Quando foi que tive essa idéia mesmo? Devia ter me mudado para um lugar mais longe de onde morava antes. Ou até mesmo de cidade. Esses parques, esses ônibus, metrôs, ruas e avenidas, estão todas amaldiçoadas pelo que sinto. São Paulo não é mais a mesma, mesmo depois de anos, vejo ela em cada casal se beijando, vejo ela em cada mestiça, em cada calça jeans. Mesmo depois de anos, até quando vou repetir isso? Não mudei nada, essa barba que não cresce, essas camisetas de bandas, de filmes e essas calças com a barra rasgada de tanto ficarem na sola do meu AllStar enquanto ando.

Será que se eu comprar algo, eu fico melhor? E se eu aumentar o som do I-Pod? Se eu encher a cara talvez? Já fiz tudo isso. Não deu certo antes, não vai dar certo agora. E se eu fizer os três ao mesmo tempo?

Esqueci o quanto era chato andar no shopping, ficam todos me olhando, algumas garotas param para tirar foto, e muitas pessoas para me dar os parabéns, e alguns para me ofender gratuitamente. Acho que gastei demais, ainda bem que meu cartão de crédito foi aceito.

- Me dê um chopp por favor.

Não sou de beber, qualquer coisa me derruba, estou num shopping, então ficarei na minha. Eu já vim nesse bar dentro do shopping, para ver alguns jogos de futebol de meu time. Essa TV deles é gigante.

Hey! Espera, quem é esse cara sendo preso? Porra, onde eu abaixo o som desse I-Pod? Foda-se, arranco o fone então.

- Aumenta o volume, por favor cara?

Ele sabe quem eu sou, sabe que o que esta passando na TV é de interesse de todos, não só de mim.

A TV esta mostrando a espada agora, e esse cara sendo preso, saiu do navio, o navio parado esses quatro anos em Santos. Então é isso mesmo, mais do que confirmado, o navio fantasma, como chamam ele, veio atrás da espada. O cara é um informante que saiu do navio. Mas porque descobriram só agora? Ficam soldados dia e noite em volta do navio, esse tempo todo. Porque não invadem?

O exército tem a espada em seu poder, que entrem e cortem todos ao meio. Ou será que é justamente isso que o navio quer? Que levem a espada até eles? Quer saber? Pouco me importa. Não quero mais saber de nada.Que morram todos.

Como assim? O exército me procura? O que esse jornal esta dizendo? Eu não quero saber de nada, de mais nada.

Essas pessoas me olhando torto. Esse copo de chopp. Essa musica chiando nos fones de ouvido, essa lágrima? Essa lembrança. Para mim, tudo isso, de agora em diante, é IRREVERSÍVEL.

2 comentários:

Anônimo disse...

esse prólogo ficou fodástico.

Asamiya Zaoldyeck disse...

CARA...MBA. Adorei esse prólogo! Muuuuuuuuuuuuuuuuuuito bom!
Gostei do modo como foi utilizada a narração, deu uma certa dinâmica e, pra mim, uma empatia com o Chris!

Ah, e só mais uma coisa... CONTINUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!