quarta-feira, 30 de junho de 2010

Capitulo 1 - Bem vindo ao clube...

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Meu Deus.

Eu sinceramente não me lembro de quando presenciei um sábado tão chato.

Com 17 anos, geralmente as pessoas estão cheias de amigos no contato do celular. Ninguém fica mais em casa em pleno sábado á noite. É ai que entra um questão em minha vida, eu odeio ser meio nerd.

Nessa fase, parece que sofremos uma forte influencia de tudo o que vivemos, meu irmão mais velho por exemplo, ele adora bandas de Rock n Roll do tipo Guns n Roses e Iron Maden, e eu óbviamente herdei esse gosto musical. Então coloco esse tipo de musicas em meu I-Pod e simplesmente saio andando sem rumo algum, pelas ruas do meu bairro. E claro, começo á desconfiar que meu irmão mais velho tenha exercido uma influência em me deixar em casa sábados á noite, ainda mais agora que ele viajou.

E agora que me lembrei, estou tão perto da casa dos gêmeos, porque não dar um pulo lá ?

Ok ! Qualquer pessoa imaginaria que nenhum amigo esta em casa em pleno sábado á noite, mas não eles. Toda as vezes que eu penso que sou anti-social ou coisa do tipo, eu me recordo desses dois, e me sinto até melhor. Eles raramente saem de casa, realmente preferem instalar algum tipo de tecnologia em seus computadores, enfrentar alguém on line no video-game e até mesmo inventarem alguma coisa para construir. Apesar de serem mais amigos do meu irmão do que meus amigos, e serem 3 anos mais velhos do que eu, nós éramos muito amigos também. Os dois eram os típicos irmãos gêmeos que se completavam em tudo, dificilmente eram vistos separados, e usavam roupas quase parecidas, o que dificultava muito na hora de distinguir um do outro.

O bom, é que sempre sou bem recebido. Mesmo estando em um bairro da classe média nesse extremo da cidade, essa fachada da casa deles sempre me surpreende, com essas pedras de granito e essa janela com o vidro fumê, onde fica o interfone.

- Quem é ?

- Sou eu, Chris.

- Eu nunca ouvi esse nome na minha vida, e estamos sem pães sobrando.

- Ok ! Adeus.

- Brincadeira, entra ai cara.

As vezes, eles falam tão sério,que eu quase acredito. Eles fazem piada com tudo, e com todos. Já os vi fazerem piadas das situações mais embaraçosas possíveis, e era exatamente esse ar de comédia e inteligência que havia entre os dois, que me fazia gostar tanto deles.

Eu nem precisei perguntar o que eles estavam fazendo:

- Criamos um software que comanda a luz de todos os cômodos da casa.

- Exatamente, com apenas um clique do mouse, posso apagar a luz do banheiro durante sua diarréia. O que acha Chris ?

- Eu acho que nunca visitarei vocês dois quando estiver com problemas estomacais.

Incrivelmente, essas coisas inúteis, uma hora ou outra, acabavam tendo algum tipo de importância, quando menos esperávamos.

Como eu adorava ver as coisas que eles criavam, continuei indagando sobre o novo programa:

- E vocês planejam fazer o que com isso ?

- Na verdade, ligamos toda a fiação elétrica da casa ao nosso computador, que é programado pelo novo software.

- Sim ! Mas isso não impede que as luzes e os demais aparelhos elétricos da casa possam ser acionados como funcionavam antes, á partir de seus interruptores manuais.

Eu não queria perguntar isso, mas fui forçado:

- E qual a utilidade disso ?

E a resposta foi a mais óbvia.

- Ainda não sabemos, mas assim que descobrirmos, você será o ultimo á saber.

Continuamos conversando sobre mais uma criação inútil dos dois, e eles entregaram que a idéia já existia, mas que preferiram criar o software eles mesmos.

Eu não pude deixar de lembrar os dois, que era um sábado á noite, ainda eram 7 da noite, e uma de nossas bandas favoritas iria tocar numa casa de rock relativamente perto de nossa casa, o Kazebre.

Nós nos conhecemos justamente no Kazebre, Luan e Juan eram simplesmente dois apaixonados por bate-cabeças, um tipo de tumulto, ou diga-se de passagem, agressão, criada durante os shows de rock. Afinal de contas, para esses dois, não existe uma forma melhor de esbanjar sentimentos, senão, socando alguma coisa.

Depois de muito insistir, Luan, que geralmente era o mais agitado, resolveu perguntar:

- De quem é o show hoje ?

E eu prontamente respondi:

- Hoje é Dead Fish.

E Juan, o mais calculista dos dois completou:

- Dead Fish foi a banda que tocou quando nós conhecemos seu irmão no Kazebre, e faz mais ou menos um ano.

Então aproveitei a oportunidade pra convencer os dois á irem comigo:

- Ótimo, olha que legal. A gente pode justamente comemorar um ano de amizade, e eu posso mostrar pra minha Mãe que ainda tenho amigos que saem sábados á noite e não sou um excluído.

E para o meu conforto, os dois toparam:

- Tudo bem, faz tempo que não socamos algumas almas mesmo, talvez faça bem. Eu vou tomar banho.

Ah ! Eu já estava feliz, é chato ir para esse tipo de lugar sozinho, ou acompanhado de alguém que não gosta. E pra minha sorte, a casa era tão grande, que havia uns 4 banheiros. E rapidamente, os dois estavam prontos com a chave do carro nas mãos em direção a cozinha, onde ficava a porta que dava na garagem. Antes de saírem, os dois deixaram um bilhete avisando a empregada que chegariam de manhã, que haviam saído no sábado á noite e não tinham hora para voltar, o que era um bom sinal pra mim.

Eu sabia que eles não tinham Mãe, me recordo da história que me contaram uma única vez, que sofreu um acidente de carro, e depois disso, nunca mais haviam tocado no assunto. Então perguntei sobre o Pai deles, que nunca estava presente na vida dos dois, mas mesmo assim, era o único parente deles do qual eu tinha conhecimento.

- Onde o Pai de vocês esta dessa vez ?

- Cara! Sabemos que ele foi pra Índia, parece que tem alguns caras lá que criaram uma tecnologia que ele se interessou muito.

E Luan completou:

- Sinceramente, eu não sei que tipo de tecnologia ligada á armas, indianos seriam capazes de inventar.

Eu sabia que o Pai deles trabalhava com algum tipo de coisa ilegal, e que era com armas, mas nem sequer me atrevi á perguntar, e então eles lembraram:

- Cara! O seu irmão não esta na Índia ainda ?

E eu respondi:

- Ainda esta sim, ele entrou em contato ontem e esta numa cidade chamada Khatima, ele tem em mente atravessar o Nepal, e chegar á China, naquelas regiões onde ficam as montanhas.

E rapidamente Juan lembrou:

- Provável que ele queira passar por Kathmandu e ir até a fronteira onde fica o Monte Everest.

E eu me lembrei.

- Sim, ele disse vários nomes, não me lembro de nada.

A pouca noção que eu tinha de geografia, foi jogando um jogo de tabuleiro chamado War, justamente com eles, que me lembraram logo em seguida.

- Acho que seu irmão deve ter tirado a carta de " dominar todo o continente asiático ".

Os dois caíram na gargalhada, e eu levei alguns segundo, até me lembrar que eles se referiam á um dos objetivos exatamente desse jogo de tabuleiro. Quando paramos de rir, Luan se lembrou.

- Cara! Me lembro que seu irmão, quando nos conhecemos, já era faixa preta em Kung-Fu, e usava isso á favor dele nos shows enquanto socava outras pessoas no bate-cabeça.

Quando ele começou á rir, Juan já logo emendou:

- Seu irmão faz falta cara, não sei o que ele foi fazer lá ainda, mas quando ele entrar em contato de novo, por favor, avise que já esta na hora dele voltar. Ele ia gostar de ir hoje.

E enquanto estávamos no carro em direção ao show, eu rindo me toquei, de como esses dois gostavam de repetir a expressão "cara", antes de falar alguma coisa.

E nesse exato momento, meu celular tocou.