quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Capitulo 18 - Bem vindo clube: O novo Dan

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Era somente uma sequência estranha de números em minha cabeça, em um papel amassado, com esse símbolo estranho. Eu vou lembrar de tudo com detalhes, assim que o medo passar. Assim que eu sair daqui, se eu sair daqui.

Abri lentamente a gigantesca porta da catedral, e olhei para o interior, mas sem colocar o corpo para o lado de dentro por completo. Vi algumas cabeças sentadas naqueles bancos cumpridos enormes de madeira, mas estavam de costas para mim. Eu não vi Dan, então, sem pensar em olhar pros lados, dei uns passos mais largos, e passei da divisa da igreja com a porta, e comecei á engasgar com meu próprio ar, sufocado, eu senti o braço cercando meu pescoço, o reflexo da espada diante de meus olhos, e aquela voz cansada, porém, alta e raivosa:

- O que você esta fazendo aqui?

Me soltou,me empurrou, e retruquei:

- Vim te tirar daqui. O que pensa que esta fazendo?

Ele ia começar a dizer algo, mas colocou a espada no chão e se apoiou com o braço esquerdo, levantou o direito até os olhos, parecia sentir uma forte dor de cabeça. Só então eu pude ver, como a mancha negra havia se espalhado, já tomava parte de seu ombro e subia pelo seu pescoço. E então, Dan ficou mais descontrolado e começou a gritar:

- Você vai dar meia volta, e sair pela porta por onde entrou e ...

- Cala a boca Danilo! Você não é mais o meu irmão mais velho. Eu não te obedeço mais, olha pra você, cara. Nossa Mãe esta nesse exato momento em casa chorando por sua causa, já parou para pensa por um minuto no que você esta fazendo?

Seguiu um silêncio, e como todo ser humano, quando percebi que ele abaixou a cabeça, senti o poder da situação completamente em minhas mãos, estaria tudo resolvido então:

- Não cansou de ser egoísta? O que estava fazendo na Índia? O que aconteceu com Brian? De onde saiu essa mancha e essa espada? Cara! Você era meu herói e agora esta agindo feito um completo babaca, fazendo pessoas de refém em uma igreja? O que esta passando pela sua cabeça agora? Me diz?

E seguiu o silêncio, então uma voz veio por de trás de mim:

- Podemos sair?

Me virei e me deparei com um grupo de sete pessoas, dentre elas, um senhor de idade, tinha uma longa barba toda grisalha, era ele quem estava falando, mas eu estava aproveitando o meu momento heróico:

- Espere só um instante todos vocês, ele não é quem parece ser, sentem, e vai ficar tudo bem.

Dan começou á ficar completamente perturbado, levou as mãos aos olhos, deixando cair a espada, e começou a chorar, aos soluços me disse:

- É a sua ultima chance de falar comigo baixinho.

- Como assim?

- Não da tempo para explicar, essa pessoa que você esta vendo, que diz que não sou eu, cometeu um grande erro. Não devo ser perdoado, não tenha remorso, não tenha culpa, não tenha dó.

- Do que esta falando?

- Prometa pra mim Chris, que não vai ter dó.

- Dó de que?

De repente, Dan soltou um grito que ecoou por toda a catedral:

- Prometa que não vai ter dó desgraçado.

Tentou me dar um soco, mas foi tão lento, que eu pude me esquivar, então ele caiu no chão, de peito, aos prantos, então encerrei minha cena com chave de ouro:

- Você já esta morto irmão, venham.

Acenei para que as pessoas, aparentemente nervosas, que estavam olhando tudo atentamente, mas que não reagiram a toda a discussão, para que me acompanhassem até a porta. Só havia uma mulher no grupo, o resto eram todos rapazes, um deles parou para falar:

- Ele é seu irmão?

- Até agora era.

- Bem! Ele feriu alguns policiais, e arrastou os corpos para atrás dos bancos.

Apontou para o chão, e eu vi alguns rastros de sangue. Imaginei que estivessem mortos, o que me deu mais raiva de Dan, mas o rapaz concluiu:

- Seu irmão não os matou, talvez estejam desmaiados, ele só parece ter uma força descomunal.

- O que eu podia fazer, eu fiz. Daqui pra frente é com a policia.

Acompanhei todos até a  porta, quando eles saíram, uma grande festa foi feita por todos os curiosos que estavam no local. Os policiais abriram sorrisos, e quando eu sai, todos aplaudiram, e todas as câmeras de TV, que não estavam ali antes, se voltaram para mim. Eu fiz o tipo que não estava me importando muito, mas a verdade era que eu estava eufórico demais com tudo aquilo, então fiz mais pose, e acenei, dizendo que voltaria para dentro, para buscar meu irmão, e gritei para o policial que havia me permitido entrar:

- Esperem só mais um pouco, vou buscar meu irmão.

Voltei para o lado de dentro, e como o som não entrava muito, o clima era completamente outro. E meu irmão naquela cena deplorável, de joelhos, parou de chorar, mas suas lágrimas já haviam molhado uma pequena parte do chão. Peguei a espada no chão, e fiquei olhando para ele, mas eu estava com muita raiva:

- É o seu fim, irmão.

Dei as costas, e abri novamente a gigantesca porta de madeira da catedral, e levantei a espada, para que todos pudessem ver que Dan já estava desarmado, e todos gritaram com grande euforia.

- Errado. É o seu fim, irmão!

A voz estava perto demais para dar tempo de eu me virar ou tentar algo. E ao mesmo tempo em que vi todos os policiais a minha frente, sacarem suas armas e apontarem para mim, senti o chute mais forte que já levei na vida, e a dor imensa tomando conta de toda as minhas costas. Tão forte e tão rápido, que larguei a espada, para poder apoiar as duas mãos no chão, ou melhor, nas escadas da catedral. Bati a cabeça com força, mas a primeira reação que tive, foi a de olhar para trás, e vi a imagem desfocada e cambaleada de meu irmão pegando a espada no chão. Esfreguei os olhos, e quando abri, vi Dan pulando para cima de mim, coloquei a mão no rosto e fechei os olhos para me defender, e ele aos berros:

- Espero que me entenda um dia.

Ele levantou a espada, iria me partir ao meio com toda certeza, ou rachar a minha cabeça, esse era meu pensamento. Fechei bem os olhos e esperei o pior, mas ouvi um grito.

- Não atirem.

E, por sorte, digamos assim, eu ouvi um tiro.

Dan levou a mão ao ombro, onde o tiro pegou, como percebeu que não ia conseguir dar o golpe, ele resolveu dar outro chute, e me fez rolar mais degraus. Mas assim que cai, consegui me levantar, com muita dor admito, olhei tudo ao meu redor, e Dan agachado, segurando a espada com a mão direita e com a mão esquerda segurando o ombro, me olhou, parecia um demônio, e deu um grito frio:

- Todos vocês vão morrer.

Ouvi outro tiro, mas tarde demais, Dan foi muito rápido, saltou em minha direção, eu olhei para cima, mas minha vista ainda estava embaçada. Como alguém conseguiria pular tão alto? Dei um passo para trás, e Dan caiu na minha frente. Tentei reagir com um soco, mas Dan só se esquivou para o lado, segurou meu braço e trouxe meu corpo em sua direção,e eu senti todo o seu joelho entrando em meu estomago, cai e alguns policiais correram em direção de Dan, que levantou a espada e gritou:

- Agora é caso de família, senhoras e senhores.

Seguiu-se uma risada, e a espada apontada em minha direção. Os policiais recuaram, e percebi que a multidão de curiosos correram todos para o outro lado da calçada, e diminuíram um pouco, com medo dos tiros. E o meu pensamento foi igual ao do policial que gritou:

- Não atirem, tem curiosos demais, alguém pode se ferir.

Dan já estava com um tiro na ombro, e ainda agia normalmente, inexplicavelmente. Só tinha uma coisa a se fazer. Eu terei, de vencer Dan, e na porrada.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Capitulo 17 - Bem vindo ao clube: Dificil de entender

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Eu não sei se era o barulho ensurdecedor dos helicópteros. Se era a cara de espanto dos irmãos. A cara de quem não estava entendendo nada da Sil. Ou tudo ao mesmo tempo. A cena se imortalizava em minha mente, eu vi tudo em câmera lenta. Os militares se aproximando, o policial guardando o radio e um monte de civis rodeando a praça. Eis que meu momento de reflexão, por assim dizer, foi quebrado:

- Não se preocupem, estamos aqui para garantir que tudo dê certo.

Juan se exaltou, e questionou no ato:

- Quem são vocês?

- Somos de um serviço secreto Senhor.

- Serviço secreto vestindo uniformes coloridos? Porque não vestiram algo de neon?

- Receio que o você não saiba com quem esta falando, então se eu fosse você, ficava calado garoto e torcia para que eu não o leve daqui.

Eu nunca vi tanta satisfação no rosto de alguém, o militar vermelho, olhou bem nos fundos dos olhos de Juan quando disse aquilo, colocou o rosto bem perto do dele. Em seguida, olhou para o azul e abriu um enorme sorriso, me pareceu que ele havia realizado um sonho quando falou com Juan, e por coincidência, o azul não tirava os olhos de Luan, que ficou parado como uma estatua, mas depois de alguns segundos, resolveu falar:

- Olhem, não nos leve a mal. Mas temos bons motivos para não gostarmos de vocês, mesmo não sabendo quem vocês são.

O de azul respondeu, mostrando uma certa afinidade com Luan:

- E podemos saber o porque?

- Brian Cargnielli, nosso pai, faleceu algumas semanas atrás. Ouvimos uma testemunha que descreveu dois militares vestidos como vocês na cena do crime.

O militar de azul então ficou espantadíssimo, olhou para o vermelho:

- Como devemos proceder agora?

O vermelho então tomou a frente:

- Viemos para garantir que tudo fique bem, podem acreditar em mim. Existem outros como nós, talvez a testemunha tenha visto algum outro militar, não seria impossível.

Talvez eu devesse dar um chute na cara desse filho da puta, estava na cara dele que estava mentindo, mas os gêmeos ficaram completamente conformados. E então o policial interrompeu:

- Eu não quero estragar a cena de novela de vocês, mas temos outro caso muito mais importante para decidirmos, o rapaz dentro da igreja esta com reféns e minha obrigação aqui é cuidar para que ninguém saia ferido.

Os militares então se afastaram da gente, levando com eles o policial. Então eu resolvi, questionar os irmãos:

- Vocês finalmente tem a chance de colocar os suspeitos na parede e tremem na base?

Luan, que parecia mais calmo, me respondeu:

- Não sabemos se são eles.

- E quem mais usa uniformes militares de cores diferentes?

- Ele disse que existem mais deles.

- Ninguém tem coragem de sair assim na rua cara, só esses dois.

- Eu não sei explicar, mas eles parecem confiáveis.

- Como confiáveis? Os caras ...

Juan muito mais nervoso, me interrompeu:

- Fica calado, você não sabe o que esta acontecendo. Você esqueceu um detalhe pequeno.

- Que detalhe?

Juan levantou a mão, em sinal de quem me mandava esperar, mas senti uma mão em meu ombro. E então a voz do policial ecoou nos nossos ouvidos:

- Chris, você vai entrar na catedral e falar com seu irmão.

Eu levei um susto tão grande, mas tão grande, que senti um frio na barriga imenso. Parecia que iria levar um tiro ou sei lá. E então eu pensei, estou com medo do meu irmão? Eu cresci vendo ele sorrir, brincando, ouvindo Rock´n Roll, jogando videogame, treinando artes marciais. E agora, alguém me diz que vou ter que falar com meu irmão, e eu sinto medo?

- Eu vou Senhor. Pode ficar tranquilo que eu resolvo isso então.

Eu me senti o negociador né. Eu poderia estrelar um filme de Hollywood naquele momento, que estava tudo certo. Mas a verdade é que estava com tanto medo, quanto qualquer um:

- Quer que eu vá com você?

Me perguntou Sil. Claro que eu não queria, queria ir sozinho:

- Não amor! Eu vou sozinho. É meu irmão, só vou conversar com ele.

- Tudo bem, mas lembre-se que ele não é mais a mesma pessoa.

- Como se eu pudesse esquecer.

Nesse instante, eu lembrei da Kaueli. Se ela tivesse ali, agora, eu talvez a levasse comigo. Mas pensando bem, de que adiantaria? Talvez Dan só ficasse mais nervoso. Ainda mais sabendo que Roger estaria por perto. Olhei tudo ao meu redor, e só via infinitos curiosos, nem sinal dos dois.

Dei um beijo bem rápido, um selinho, na minha namorada. Como eu gostava de pensar assim. Apertei a mão de Luan e do Juan, com bastante força. Eu me sentiria importante se não estivesse com tanto medo. Comecei a andar, e os dois militares vieram me seguindo, e quebraram meu momento:

- Ele não vai pegar leve com você. Vai gritar, e perder o controle. Convença-o de que ele não pode ferir ninguém.

- Como sabem disso?

- Como sabemos não importa, o bom é que sabemos.

- Eu sei bem mais sobre ele do que vocês. Ele é meu irmão.

- Ouça o que eu vou dizer, com atenção, mais uma vez. Não os deixe ferir ninguém, mantenho-o calma, não fale sobre nada que possa acontecer com ele. Mantenha o foco em fazer ele lembrar de coisas passadas, pois ele esta muito perturbado.

- E se eu conseguir fazer ele liberar todos, vocês vão fazer o que?

- Não faremos mais nada amigo, essa é com certeza a ultima vez que você nos verá.

Pra ser sincero, eu fiquei feliz com isso. Não confiava nesses dois.

E ali estava eu, de frente a imensa catedral da praça da Sé, com um militar de cada lado, agora sim, me senti menos nervoso, o suficiente para me sentir importante.

O azul deu um sorriso estranho, como quem me conhecia muito bem, e falou:

- Foi um prazer imenso senhor Chris Gaia.

Estendeu a mão, e eu sem entender nada, estendi a minha. Mas fiquei em silencio. E então, o vermelho ressaltou:

- Estamos aqui para que tudo dê certo.

Apertou a minha mão também. Eles realmente pareciam felizes em ter me conhecido, e eu claro, não entendi nada e continuei calado.

Subi alguns degraus da escada da Catedral em direção a imensa porta de madeira, e resolvi para e olhar para trás. Olhei para os dois militares se afastando, e começando a sumiu no meio te tantos outros policiais e de tantos curiosos. Foi então, que eu percebi, um pequeno detalhe. O detalhe do qual Juan tinha acabado de me falar. Esse símbolo, nos uniformes deles, estampado nas costas, mas de forma discreta até, se misturava com a cor do uniforme. Eu já vi esse símbolo. Estava desenhado no pedaço de papel que Brian segurava quando morreu, juntamente com aqueles números estranhos

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Capitulo 16 - Bem vindo ao clube: Tudo ao mesmo tempo

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Eu teria estranhado se fosse qualquer outro lugar do mundo. Não a Catedral da Sé. Danilo sempre me disse que São Paulo tinha tudo o que uma cidade de primeiro mundo deveria ter, e nosso cartão postal não ficava atrás de nenhum outro no mundo. E agora ele estava destruindo? Estranho. Aprendi á visitar aquela igreja por causa dele. E nunca fui muito religioso.

Ouvi um barulho daqueles rádios, estava em cima do painel do carro, Sil mandou eu pegar e responder:

- Pode falar.

- Onde vocês estão?

- Exatamente naquela avenida que termina no centro da cidade, a radial leste.

- Em que estação? Estamos na Penha.

- Estamos uma estação atrás. Nos esperem ai no acostamento.

Sil encostou o carro, mas nem 3 minutos e o carro dos gêmeos passou por nós, então ela saiu em disparada e ficamos com os carros lado a lado no semáforo:

- Seu irmão endoidou legal agora Chris.

Gritou Luan, que era o passageiro. Eu revidei:

- Não conheço aquele cara, não é meu irmão.

- Agora você entendeu o espírito da coisa.

Sil resolveu interferir:

- Estamos indo lá, mas vamos fazer o que?

- Vamos só nos assegurar que tudo fique bem.

Então o radio de Sil chamou novamente, mas ela mesmo atendeu dessa vez:

- Oi Kau, já esta sabendo de tudo então?

E eu podia ouvir a kauelli no viva voz:

- Sim! Roger ligou a TV e se deparou com Dan no jornal, ficamos apavorados.

- Nós estamos á caminho da catedral.

- Nós queremos ir, mas moramos do outro lado da cidade, vai demorar demais.

- Vocês é quem sabem, eu sinceramente nem sei o porque estou indo. Me preocupo mais com o Chris.

Sil me deu um belo sorriso após ter dito isso, o que me confortou.

- Ele esta ai com você?

- Esta sim.

- Força Chris, seu irmão não é mais o mesmo.

- Ele sabe Kau. Ele sabe.

E seguindo o carro do gêmeos, me bateu uma euforia enorme, eu não sabia o que iria encontrar na catedral, não sabia o que tinha acontecido com meu irmão, não sabia absolutamente nada. Era começo de uma semana, minha vida até dias atrás, eram um sábado interminável diante do computador, vasculhando comunidades na internet, baixando filmes, ouvindo musica, comendo salgadinho e bebendo refrigerante. Eu poderia dizer que estava sentindo falta de tudo isso, mas não. Não estava.

Cada estação de metrô que passava, minha euforia aumentava. Misturada com meu ódio, com minha alegria por estar do lado de pessoas que eu tanto admirei e agora são minhas amigas e sem contar Silvana, o tempo todo do meu lado, não importava a situação. Eu estava pronto, pronto para o que eu não sei, mas estava pronto.

Logo após a ultima estação de metrô antes da praça da Sé. Um transito interminável já tomava conta das ruas do centro da cidade. Então, perto de uma ladeira, estacionamos, para não dizer largamos, o carro em uma calçada qualquer perto de um bar, e começamos a correr.

Eu já estava bem ofegante, quando virei para Juan e falei:

- O que acha que vamos encontrar lá?

- Seu irmão completamente alucinado achando que é algum super herói e socando todo mundo.

Esqueço que eles tentam ser engraçados mesmo quando não devem, mas o que eu poderia fazer? Chorar? Eu já estava completamente conformado com toda aquela situação.

Mas o meu controle ia se perdendo á cada passo, quando comecei a ver os carros parados, com seus motoristas ao lado de fora, apoiados nas portas abertas de seus veículos, e a catedral bem ao fundo, no fim da rua. Eu queria correr mais rápido, mas estava bem cansado, Sil então, nem se fale. Parei um pouco e abracei ela:

- Você esta bem?

- Sim. Só estou cansada.

Juan gritou:

- Vamos estamos quase chegando.

- Já alcanço vocês, podem ir na frente.

Entrei correndo em um bar bem a nossa frente, e tirei todas as moedas que eu tinha no bolso:

- Me dê uma água.

O cara atrás do balcão me atendeu, mas sem olhar pra mim, seus olhos só miravam a TV, que transmitia ao vivo, tudo o que acontecia na praça. Eu vi muitos policiais, alguns deitados na escada da catedral, como se estivessem desmaiados. E então um som ensurdecedor tomou conta de tudo, um helicóptero estava chegado ao local. E então eu perdi completamente o controle de mim mesmo, larguei tudo, corri até Sil e dei a água. Ela bebeu, segurei forte a sua mão, e voltamos a andar em direção a catedral, em passos bem largos.

Quando chegamos bem perto, percebi uma infinidade de curiosos, era realmente muita gente, o que me assustou mais ainda. Chamei os gêmeos no rádio, pois Sil mal podia falar:

- Onde vocês estão? Nós chegamos.

- Nós estamos um pouco mais pra frente, no meio de todo mundo.

- Mas o que esta acontecendo?

- A policia não deixa ninguém passar, nem adianta vocês avançarem.

- E meu irmão?

- Não dá pra ver direito, parece que ele esta dentro da catedral, e ninguém consegue entrar.

- Nós vamos mais pro meio.

- Não! Fiquem onde estão, nós vamos até vocês. Tivemos uma idéia.

Eles nos encontraram rapidamente, seguraram na nossa mão:

- Venham. Tivemos uma idéia, vamos entrar pelo metrô.

Descemos por um lado da estação, mas já havia muitos policiais, mas não nos impediram de entrar. Passamos por uma multidão que se aglomerava perto das catracas, e com muito sacrifício, chegamos ao outro lado.

Havia policiais por toda a escada, e isso me assustava, pois, como um só homem, conseguiria mobilizar tantos policiais. E nossas esperanças foram por água abaixo. Nunca nos deixariam passar. Mas então, Sil tomou a iniciativa, foi até uma das escadas e falou com o policial:

- Nos deixem passar, nós temos a solução pra tudo.

- Do que estão falando? Dêem meia volta e saiam da estação. É o melhor que vocês fazem.

- Meu namorado é o irmão do cara, que esta dentro da catedral.

O policial me olhou meio desconfiado, e outros policiais chegaram perto:

- Me diga o nome completo de seu irmão rapaz.

- Danilo Bianor Gaia.

O policial pegou o rádio, e chamou alguém:

- Senhor, temos o nome completo do cara, é Danilo Bianor Gaia.

Eu pude ouvir a voz do outro lado do rádio:

- Entendido, mas como conseguiram a informação?

- Estou com o irmão dele na minha frente Senhor.

- Diga para esse rapaz subir até o marco zero, vamos tentar usá-lo nas negociações.

O policial então me olhou, colocou a mão em meu ombro:

- Suba as escadas, mas não avance, volte e vá até o marco zero.

Assim que ele terminou de falar, avancei uns três degraus, mas eles barraram Sil e os gêmeos:

- Seus amigos ficam.

Sem exitar eu respondi:

- Ou vamos todos, ou não vai ninguém.

O policial olhou para todos os outros policiais nas escadarias, acenou com a cabeça, e deixou Sil, Luan e Juan passar.

Subimos correndo, já estávamos cansados demais, mas nem parecia. Conforme chegávamos perto do marco zero, que nada mais é que uma pequena escultura com as direções dos estados que fazem limite com São Paulo, que fica exatamente no centro da praça da Sé. O publico de curiosos era incrível, mas todos não passavam dos coqueiros ao redor, a policia não deixava ninguém passar.

Ao olhar para o céu, podia ver alguns helicópteros, de canais de televisão. Imaginei então que minha Mãe já estava desesperada vendo tudo aquilo, se visse eu então, surtaria. Peguei o celular e liguei para casa. Mas depois de muitas tentativas, ninguém atendeu. Quando coloquei o celular no bolso, percebi que já havia um policial falando comigo:

- Você que é o irmão do estranho dentro da catedral?

- Sou eu mesmo.

- Seu irmão sempre teve atitudes suspeitas? Mexe com drogas ou coisa do tipo?

- Nunca Senhor. Sempre foi atleta e nunca sequer fumou cigarro.

- Acha que tem alguma explicação pra isso?

- Isso o que?

- Seu irmão entrou na catedral com varias pessoas lá dentro. Colocou todo mundo pra correr, e se trancou lá dentro. Depois de uma denuncia, uma viatura parou e tentaram tirar ele de lá de dentro, mas aparentemente, seu irmão matou os policiais.

Isso me chocou, mesmo que Dan tenha feito o que fez no ginásio, não matou ninguém lá. Mas o policial queria falar mais:

- Em seguida chegaram mais viaturas, e seu irmão matou todos. E agora nenhum policial quer chegar perto nem das escadas para retirar os corpos dos companheiros que foram mortos e estão nas escadas. E agora, por causa de um só rapaz, seu irmão, o exército esta a caminho. Então eu vou fazer a pergunta só mais uma vez, e espero que você me responda. Tem alguma explicação para isso?

Se eu estava apavorado antes, bem, agora eu estava mais que isso. Gaguejei bastante, mas saiu:

- Meu irmão foi acusado de um assassinato que provavelmente não cometeu, desde então, começou á se revoltar.

- Assassinato de quem?

- Brian Cargnielli.

- Brian da Cargnielli Tecnologias?

Antes que eu pudesse responder, Luan e Juan tomaram a minha frente:

- Exatamente Senhor, o nosso pai.

O policial pensou por alguns segundos, pegou o rádio:

- O cara dentro da catedral é o acusado de matar Brian Cargnielli, procurado já faz algum tempo. Vamos mandar uma equipe e tentar negociar com o garoto usando o argumento de que a acusação será retirada.

Meu irmão jamais cairia nessa, mas eu não iria dar a idéia. Que executassem ela então.

De repente, começaram á sair soldados de todos os lados, do meio dos curiosos entre as palmeiras.

E então, a história se revertia, o desesperado não era mais eu. Luan e Juan passaram a suar frio. Pois vinham em nossa direção, um homem do exército enorme, mas, acompanhando ele, um de cada lado. Mais dois militares, um de azul, e um de vermelho.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Capitulo 15: Bem vindo ao clube - A morte de um sentimento

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Alguns policiais cercaram Dan, em vão. Dan pulou por cima de um dos policiais e deu um soco certeiro em suas costas. O policial no mesmo instante perdeu o fôlego e caiu de joelhos. Outro policial tentou acertar um tiro, mas errou, todos estavam muito cautelosos, somente apontavam as armas e davam gritos de ameaças.

Roger pegou na mão dos gêmeos, e pulou a grade pro tatame, praticamente arrastando os dois irmãos. Eu segurei Sil e Kau pelas mãos e corremos em direção a saída. Enquanto corria, olhava o tempo inteiro para o centro do ginásio, vi Rogers e os irmãos entrarem no vestiário correndo, e Dan completamente fora de si agredindo todos os policiais em uma velocidade um tanto fora do normal.

Deixei Kau e Sil do lado de fora, e logo voltei para dentro, Sil tentou me impedir:

- Onde pensa que vai?

- Vou voltar, ver o que vão fazer com meu irmão.

- Aquele não é seu irmão.

- Negativo! Aquele não é o seu, irmão.

Ainda havia algumas pessoas correndo para fora, e alguns policiais feridos passaram por mim e tentaram me impedir, mas desobedeci as ordens e continuei correndo, e entrei no corredor do vestiário.

Meu irmão estava de costas para mim, de frente para Luan, Roger segurando a espada e Luan. Então gritei:

- Dan!

Ele ficou calado, me ignorou como se nunca tivesse me visto na vida, sequer olhou para trás, seu foco era a espada:

- Vocês não são loucos de não me entregarem essa espada.

E para minha surpresa, o próprio Juan respondeu:

- Você é que não é louco de tentar tomar ela de nós.

Exatamente no fim da palavra nós, Juan já se engasgou com a mão de Dan em seu pescoço, demorou alguns segundos até Roger olhar e entender o que aconteceu tão rápido diante de seus olhos e tentou desenrolar a espada da faixa em que estava enrolada. Dan lhe deu um chute certeiro na cara, sem tirar a mão do pescoço de Juan. E então Luan tentou acertar um chute em seu peito, mas ficou claro o quanto os gêmeos não tinham sequer habilidade alguma, da mesma forma que Luan tentou o chute, foi ao chão, depois de Dan virar o próprio corpo, soltar Juan e acertar outro chute certeiro na cara de Luan. Roger ainda tentou alguns golpes, mas não tinha o que questionar, Dan perdeu o controle, totalmente, e nem sabíamos do que, que força era aquela? De onde vinha? Dan deu uma cotovelada no pescoço de Roger, que já estava exausto depois da luta, virou o corpo dele e colocou ele de joelhos, segurou os dois braços dele e começou a juntar até Roger soltar um grito que ecoou por todo o corredor. E quando Dan se preparou para dar o chute nas costas de Roger, sentiu o soco mais forte que ele poderia ter sentido em suas próprias costas, tão forte, que chegou a perder o fôlego por alguns segundos. Sim, era o meu soco de direita, toda a raiva, toda a falta de consideração que ele teve por mim, não era mais meu irmão, era meu inimigo e eu tinha que encarar isso, e tudo estava depositado no meu braço e no meu punho:

- Parece que o caçula acaba de aprender uma lição não é mesmo?

Antes que eu pudesse responder, senti a mão direita de Dan entrando fortemente em meu estomago. Ajoelhei, e quando Dan pegou a espada, achei queria meu fim, traído e morto pelo meu próprio sangue, mas um tiro acertou a espada.

Dan desenrolou calmamente a faixa, olhando friamente para os rostos apavorados de todos os policiais, assim que terminou, retirou a parte de cima do Kimono, e começou a desenrolar a faixa em seu braço. Quando olhei, vi um Dan mais forte, segurando a espada, incrivelmente linda, completamente cromada, e seu braço quase negro, tamanha era a mancha. A parte negra de sua cicatriz era tão intensa, que parecia um fogo negro, consumindo seu braço aos poucos.

Dan não matou ninguém, mas atravessou completamente todo o corredor, deitando todos os policiais um por um, sem que lhe acertassem um tiro sequer.

Roger me deu a mão mais uma vez, e me ajudou a levantar, os irmãos já estavam na frente em direção a saída. Dan fugiu, nada pode pará-lo.

Ficamos encostados nos carros por alguns minutos no estacionamento, tentando imaginar o que estava acontecendo. Algo tão surreal, e estava acontecendo justo com a gente. Algo tão inexplicável, e não sabíamos nem se queríamos entender.

- Eu preciso fazer algumas perguntas a vocês se não se importam.

Perguntou um policial, cercado de mais uns três deles. Fizeram perguntas sobre a idade, ultima vez que eu vi meu irmão e coisas do tipo, e que qualquer informação que pudesse levar a policia a ele, pra ajudarmos. Eu estava tão triste e nervoso pelo meu irmão, que concordei com convicção.

Já vi essa cena antes. Dejavu certo? Na verdade, estar no banco de passageiro do carro da Sil, pensando em alguma coisa olhando para a janela, queria que se tornasse uma coisa mais rotineira:

- Me desculpe por ser tão bruto com você na hora do alvoroço.

- Tudo bem, eu pensei bem. Ele é seu irmão. Foi seu dever acreditar nele até o fim.

Por isso eu gostava dela, era sensata. Me entendia completamente, até demais:

- Mas saiba que agora eu acordei, aquele cara não é o meu irmão.

- Eu pretendia te convencer disso, fico feliz em não precisar.

- O que acha que foi tudo isso?

- Não quero entender, quero que acabe.

- E quando acha que vai acabar?

- Quer mesmo que eu diga?

Eu sabia a resposta, claro que sabia. Mas as vezes, ficamos tão cegos quando o assunto é relacionado a alguém que amamos tanto, que ficamos completamente cegos. E eu queria ouvir, mesmo que não adiantasse, eu queria ouvir. Queria que a angustia tomasse conta de toda a minha garganta, exatamente como aconteceu quando ouvi ela dizer:

- Acaba quando seu irmão morrer.

Sil e eu nos despedimos, mas ficou um gosto de quero mais. Eu adorava sair com ela, e bem, esse final de semana não foi bem como planejamos. A parte mais difícil vinha agora. Contar para a minha Mãe. Mas não precisei, ela já estava no sofá chorando, e a TV ao vivo ainda no Ginásio do Ibirapuera, transmitindo o ocorrido:

- Você esta bem Mãe?

Ela já parecia mais conformada:

- Sim! Ele te fez alguma coisa?

- Levei só umas porradinhas, mas estou bem sim.

Abracei ela bem forte, e seguimos assistindo juntos e conversando:

- Mãe! Esse não é o Danilo.

- Claro que não Chris. Danilo se foi, partiu, e disse adeus. Saiu por aquela porta para uma viagem e nunca mais voltou.

A realidade da minha Mãe já era como a minha afinal.

Já disse que odeio despertadores? Ok! Era hora de ir pra escola, meu ultimo ano e estava quase acabando, era o 4° trimestre e eu estava indo bem. Só tinha esquecido um detalhe, eu era irmão da pessoa que era o assunto mais comentado de todos os tempos em jornais, e na internet.Eu não queria faltar, mas sabia que ia ser difícil, e uma hora teria de encarar meus amigos. Conforme fui chegando na portaria, todos me olhavam, alguns com cara de desprezo, e outros com cara de bons amigos. Então um dos poucos amigos que eu tinha, Nikolas, que jogava bola comigo muitas vezes, veio falar comigo:

- Caralho! O que foi aquilo ontem?

- De qual parte você esta falando?

- Da parte em que seu irmão adquiriu super poderes e agora esta fazendo justiça com as próprias mãos.

- Meu irmão não é um super-herói, esta mais para um vilão.

- Me surpreende você falar assim de seu próprio irmão.

- Aquilo não é mais meu irmão.

- O que aconteceu afinal?

- Sinceramente? Eu não sei, e nem sei se quero entender.

- Como ele fez pra ficar daquele jeito.

- Meu irmão sempre treinou muito, ele ficou mais forte, e só.

- Sim! Ficou mais forte e só colocou um ginásio lotado de policiais abaixo, sem usar armas. Qualquer um faria isso.

- Nikolas! Seja sincero comigo. Você conseguiria pensar em alguma explicação para tudo isso se fosse com você?

- Jamais.

- E como ficaria?

- Apavorado.

- Então?

- Tudo bem, já entendi.

Não que eu não quisesse falar, mas eu ia falar o que? Eu mesmo não entendia nada.

- Vai fazer o que hoje?

- Sei lá, preciso me distrair.

- Hoje, lá pelas 6 da tarde, nós vamos jogar bola aqui na quadra da escola.

- Ótimo, to precisando.

Mais ou menos ás 17 horas, tentei enviar uma mensagem de texto para o celular da Sil, mas não consegui, então avisei minha Mãe, peguei as minha chuteiras, e fui para a casa do Nikolas. Depois de chamar ele, fomos para a quadra. Lá pras 19 horas eu já estava exausto, muito suado. Corri até meus pertences jogados no canto da quadra, e desenrolei minha calça até pegar meu celular, havia umas 20 chamadas não atendidas, todas da Sil. Então retornei a ligação:

- Oi amor, onde você esta?

- Chris, pule as formalidades e não faça perguntas, onde você esta?

Pelo tom de voz dela, parecia nervosa, nem pensei em desobedecer:

- Estou na quadra da escola onde eu estudo.

- Me espere na parte de fora, chego ai em alguns minutos.

Me despedi do pessoal, que fizeram algumas brincadeiras pelo fato de logo depois de eu falar com minha namorada ao celular, ter de sair assim de repente. Mas eu dei risada, não me importei.

Me vesti, e em 10 minutos o carro da Sil encostou perto de mim:

- Entre.

- O que aconteceu?

- Vai acontecer se você não tentar acalmá-lo.

- Danilo de novo?

- Sim! Todos os canais de TV estão transmitindo ao vivo o seu irmão quebrando a igreja da Praça da Sé inteira.