sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Episódio 1 - Saga Irreversível : Um novo começo

Não me sinto como antes, não gosto de ajudar mais ninguém, a faculdade me fez mal eu diria. Gastei muito mais o meu dinheiro com cerveja e coisas futeis, do que com a real importancia que a faculdade me traria. Comecei e terminei namoros em pouco tempo, não viajei, não joguei mais video-games, não tenho mais um melhor amigo, e sim, um monte de "camaradas" que me chamam para beber. E para ser sincero, a faculdade só me mostrou que não sou capaz de fazer o que gostaria. Todas as áreas são saturadas, todos os alunos estão na fila da mesma coisa que eu, tudo muda de uma forma da qual eu não posso acompanhar. Sabe como era antes? Eu não sabia do que se tratava a publicidade, então, para mim era tudo fácil, era só eu usar a minha imaginação, e um castelo de oportunidades se construiria em minha frente. Tudo bem, em nenhum do lugar do mundo isso é possível agora. Mas ainda sinto que tudo passa rapidamente frente os meus olhos, como se eu tivesse sentado nesse banco, olhando pela janela, e vendo cada árvore passar rapidamente, como se cada uma fosse algo que perdi:

- Lá se vai uma viagem que deixei de fazer.

- O que?

- Nada! Estou pensando alto.

Não gosto de chatear ninguém com meus problemas, e Luan já tinha um bem grande pela frente:

- Como acha que seu irmão vai estar?

- Acho que ele vai estar parecido comigo.

Ao menos ele não perde mesmo o bom humor, e depois de rirmos:

- Sei lá cara, acho que barbado ele não vai estar, afinal, eu também não tenho barba. Provavelmente ele vai estar bem mais magro.

- E acha que ele quer mesmo sair dessa?

- Bom! Ele mesmo quis entrar nas drogas certo? Ele mesmo quis ir para uma clinica de reabilitação, e ele mesmo agora quer sair. Ele pode ser um usuário, mas ao menos é sensato.

Luan conhecia mesmo seu irmão, afinal, é essa ligação mágica que une os irmãos, sinto falta disso desde que matei meu irmão, mas não éramos gêmeos, com Luan e Juan essa ligação deve ser incrivelmente maior.

- O que tem feito além da faculdade? Pegou bastante mulher?

- Ah! É tudo muito complicado, as garotas são 8 ou 80, ou elas me odeiam pelo que viram na TV, ou querem loucamente transar comigo, é difícil saber se existe alguma garota que realmente sinta algo por mim.

- E a Sil? Nunca mais?

- Nunca mais. Não sei o que ela faz, não sei se ainda mora no mesmo lugar, não sei nada.

- Porque não pergunta para Kau?

- E parecer que sou um chorão mela cuecas atrás de uma garota? Que se foda.

- É isso ai, que se foda.

- E você?

- O que dá pra fazer sem família né? Um pai desaparecido e um irmão drogado, só me restou se trancar naquela casa enorme e trabalhar como um escravo.

- Esta fazendo o que?

- Ainda faço edições de videos para algumas empresas, de uns tempos pra cá alguns canais de TV também contrataram minha mão de obra, mas faço por diversão.

- Como diversão? E dinheiro?

- Cara, estou te falando, o que meu pai deixou ainda rende mais dinheiro por mês, o que eu recebo em 10 anos de trabalho.

- E você gasta?

- Quase nada, só pego o que precisa para pagar os funcionários da casa e as contas, não dá 1% do que ganho mesmo assim.

- Meu deus! E o que faz com o resto?

- Vai tudo para a empresa de pesquisas do meu pai, só não me pergunte mais, porque além disso, eu também não sei.

Depois de mais de uma hora dentro do carro, viramos uma estrada de terra, onde havia um enorme portão de madeira, Luan desceu e tocou o interfone:

- Luan Cargnielli.

Disse ele aos berros:

- Vim buscar meu irmão, Juan Cargnielli.

Em meio á uma fina garoa, com o ouvido colado no interfone, ele pode ouvir:

- Estacione na primeira casa, espere alguns minutos.

Estava frio, eu coloquei a touca e fiquei o tempo todo com as mãos no bolso, e depois de uns 15 minutos, olhei para o lado, e virava o corredor da casa, a figura magra e estranha de Juan, aparentemente exausto:

- Eae minha familia.

Abraçou forte seu irmão, e ficaram assim por mais de um minuto, choraram, largaram, se olharam no fundo dos olhos, e claro, brincaram:

- Você até que não esta tão mal.

- Para um espantalho, não estou mesmo.

Me olhou com um olhar carinhoso até, e percebeu que eu estava muito espantado, e tentou quebrar o clima:

- Você deve estar pesando, "nossa como ele esta magro". Mas meu problema se resolve com comida, porque você esta feio demais cara.

Obviamente eu ri, abracei ele fortemente, era como se eu também estivesse abraçando um irmão, e ele retrucou, como se tivesse lendo minha mente:

- Sim meu caro amigo! Você esta abraçando um irmão seu agora. E eu estou melhor do que nunca.

Não dava pra encarar Juan como um drogado, ele parecia estar feliz de ter ficado ali, o que prova que a escolha foi mesmo dele:

- Vamos embora agora, tenho um mundo para rever, tchau madrinha, se cuida, volto em breve para ajudar vocês, palavra de escoteiro.

Uma mulher de avental, cabelos bem embaraçados e com os olhos marejados, levantou um sorriso de canto e retrucou:

- Te cuida, doidão.

Doidão foi o apelido que ele ganhou na clinica, agora ele brinca como antes, porém, suas palavras são na medida, e ele parece saber exatamente cada detalhe que aconteceu o seu redor, o simples fato de me encarar, já dava á ele todas as informações sobre o que eu estava sentindo no momento, ele olhou para mim pelo retrovisor, e me indagou:

- E se eu te chamar de assassino, como se sentiria?

Eu não gostei do comentário, mas também não me senti mal por isso, e fui sincero:

- Eu sei que você é testemunha de tudo o que aconteceu, e sabe que essa não é a verdade, não me importaria se me chamasse assim, provavelmente estaria brincando.

- Muito bem! Agora repita comigo, drogado.

Eu não entendi, mas repeti:

- Drogado.

- Eu sei que você é testemunha de tudo o que aconteceu, e sabe que essa não é a verdade, não me importo que me chame assim, provavelmente estaria brincando. Agora desfaça essa cara de assustado senão serei obrigado á te levar ao Kazebre e te jogar no bate cabeças para te matar, entende?

Eu ri, e entendi o recado, ele percebeu o quanto eu estava desconfortável:

- Mas tenho uma triste noticia para te dar.

E Luan completou para mim:

- O Kazebre fechou cara.

- Como assim fechou? Esta de brincadeira certo?

- Pior que não, fechou mesmo, existe uma faixa na frente do local, e esse final de semana haverá um ultimo show.

- De quem?

- CPM22.

- Caralho! Que lixo.

Entrei na conversa:

- Como assim lixo? Eu gosto, queria o que? Essas bandas de agora?

- Cara eu estou há um ano preso dentro de uma clinica, vão ter que me atualizar.

Luan então ligou o rádio, e colocou em uma rádio, que antigamente tocava somente Rock ´n Roll, e estava tocando uma musica dessas bandas atuais, e para espanto de Juan:

- Parem o carro e voltem agora, eu quero voltar para a clinica, é sério!

Rimos por pelo menos uns 5 minutos.

Pela milésima vez, expliquei o quanto não superei a perda da Sil, o quanto me senti vazio durante a faculdade, e de quanto o mundo me odeia e me ama por eu ser um famoso anônimo entre o que eu chamaria de humanos normais. Ao contrario de mim, Luan levava uma vida completamente diferente esses 4 anos, Juan também, apesar de nesse último ano ter se viciado demais, mas uma coisa nos ligava:

- Tem treinado Chris?

- Sim! Bastante.

- Irmão?

- Muito também.

- Certo. Apesar desse meu vacilo esse último ano, tentei me manter bem fisicamente, mas vou ter que correr atrás do prejuízo. Vou começar tomando um banho.

Subiu as escadas, e eu esperei para fazer mais uma de minhas perguntas:

- Só me explica, porque ele caiu nessa, e você não?

- Somo gêmeos, não somos a mesma pessoa. Ele começou á tentar entender demais as coisas, foi ficando cada vez mais louco, obcecado, e pirou de vez.

- Eu imagino, e ele conseguiu entender algo?

- Nada! Eu me afastei, fui tentar levar uma vida normal, ele ia atrás de respostas, e só achava mais perguntas.

- E o que vai ser daqui pra frente? Vão atrás do seu pai? Aposto que ele é a resposta.

- Ou talvez, mais perguntas. O velho esta tão louco quanto Juan, logo mais ele aparece dizendo asneiras novamente.

- E o navio?

- O ancorado em Santos? Viu o que aconteceu?

- Vi que tentaram invadir, e se deram mal.

- Brasil esta culpando Portugal, porque foi lá que o navio foi visto pela última vez.

- Nada á ver, uma coisa não justifica a outra.

- Explica isso para esse povo imbecil. Mas eae, vamos amanhã?

- Onde?

- Kazebre uai, ou vai querer perder o ultimo dia de funcionamento do lugar onde viramos amigos?

- Vamos sim, demorou. E o que vamos fazer hoje?

- Juan precisa ver como estão as coisas, vamos dar um role pelo centro da cidade. Vamos juntos?

- Claro! Não estou fazendo nada.

Novamente no carro, olhando o mundo passar no banco de trás, ouvindo esses dois fazerem todo o tipo de piada. Paramos o carro em frente á praça da Sé, o cenário que eu odiava, mas não quis falar nada, descemos do carro para tentar reviver tudo em palavras. Juan andou até o marco zero:

- Não queria respostas, não queria perguntas. Queria era não ter vivido tudo isso.

E eu não pude deixar de lembrar de tudo o que eu passei ali:

- Imagine eu. Se eu pudesse voltar no tempo.

- Não mudaria nada meu amigo, precisamos de você assim, como é agora. Tudo isso formou o seu caráter.Você é menos que alguns, mas maior que muitos, ainda vai descobrir que é essencial para si mesmo e todos nós.

Eu só conseguia pensar em uma coisa. Poxa vida, Juan ficou realmente lelé da cuca, birutinha de vez.

- Vamos comer algo.

Luan estava mais calado. Mas começou á falar de um restaurante japonês, logo ali na Liberdade, que era ótimo e barato.

Fomos andando, e claro, lembramos do fatídico dia onde quando fomos todos juntos para festa anual, enquanto conversávamos:

- A culpa foi sua né Juan, você sabe. - Disse Luan

- Minha culpa do que?

- Da morte do Roger.

- O que eu tenho haver?

- Quando ele te pediu o celular no metrô, e você jogou, percebeu que ele era canhoto e disse que ele iria morrer cedo, foi macumba sua cara.

- Meu Deus eu nem lembrava mais disso cara.

Eu assumo que ri da ironia, mas foi um comentário realmente assustador, eu também não me lembrava disso.

Entramos no restaurante, era apertado, e tinha que subir umas escadas. Você pedia na entrada, e depois eles entregavam o prato escolhido na sua mesa, o problema é que o garçon subia as escadas e gritava seu nome, então eu não me surpreendi quando o garçon apontou na escada e gritou:

- Astrogildo!

Continuamos conversando, quando olhei para a figura espantada de Juan, que era o único na mesa virado para a TV do lugar, eu pude olhar o reflexo pelo espelho, e fiquei muito pior quando vi o meu rosto como noticia principal, Luan se virou e com um grito me indagou:

- Porque você esta na TV?

- Bom! É o que vamos descobrir agora.

2 comentários:

Victor A. disse...

AEEEEEE VOLTOOOOOOOOOOU \o\o\o\o\o
Demora o próximo?

[7]Bbk disse...

Prometo postar SEMPRE que possivel, to escrevendo.