quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Episódio 2 - Saga Irreversível : Quem são vocês?

Olhando assim a televisão pelo reflexo do espelho, eu pensei ser somente mais um rumor, como aquele dia no shopping. Mas a situação foi a mesma nesse calor do momento.

As pessoas já começavam á dobrar seus olhares, olhar torto, mirarem seus pratos e conversarem em um tom de voz quase mudo:

- Este povo é doente.

Ressaltou Luan, e continuou:

- Quer sair daqui?

E eu com os olhos já marejados respondi:

- Faço questão de ficar e me torturar.

A matéria, sensacionalista como todas as outras, fez um retrospecto de todos os acontecimentos, desde meus minutos de heroísmo ao entrar na catedral, até a minha ruína ao enfrentar meu irmão em praça pública. ninguém nunca pensou que a polícia estava presente e não fez nada? Não porque haviam muitos curioso. Bem, talvez, mas não fizeram nada, não porque não podiam, mas porque não queriam. Eles foram inteligentes o suficiente para perceber que a única forma de sair daquela situação, era pelas nossas próprias mãos.

A matéria se encerrou com uma foto da minha casa, mas eu não morava mais lá. Lembrei que minha mãe estava em casa, sozinha, e usei isso como desculpa para sair dali.

- Vamos logo com isso que preciso voltar para casa. Minha mãe está sozinha.

- Já entendemos.

Responderam os dois ao mesmo tempo.

Quando nos levantamos para sair, o atendente, um senhor de cabelos bem grisalhos, baixo, japonês e com o sotaque carregado, se dirigiu até a gente e tentou falar algo:

- Por favor! Não "volta" mais aqui. Eu não "querer" confusão.

Eu juro que ia ficar calado, mas Juan não pensou duas vezes:

- Faremos questão de não voltar mais aqui "Sr. Miyagi".

Subimos a ladeira em direção ao metrô, e então fomos até onde o carro estava estacionado.

As piadas e brincadeiras dos gêmeos iam me confortando conforme passava os minutos. Mas minha cabeça não deixava de pensar que minha vida estava uma droga completa, e que não tenho forças para fazer absolutamente nada para mudar.

- E se continuar pensando assim, não vai mesmo.

Disse Juan, e eu sem pensar muito perguntei:

- Porque?

- Se eu te desse o maior soco da história na sua cara agora, o que faria?

- Revidaria.

- E desde quando você tem todo esse respeito pelas coisas que te fazem mal? Se a vida esta lhe dando socos, revide. No começo você vai ser somente um retardado batendo os braços, sem coordenação alguma. Mas se cair e for se levantando, uma hora vai aprender á brigar de uma tal forma que jamais levará um soco novamente. E se levar, não irá ao chão.

Esse desgraçado agora lê pensamentos também?

Me despedi deles naquela noite, entrei em casa completamente arrasado, de como eu não conseguia esquecer nesses anos, tudo o que aconteceu. Minha mãe mais uma vez, me viu naquela situação, e obviamente lhe partiu o coração. Mas o que eu tinha á fazer? Entrei no meu quarto, deitei com a roupa que estava, e como nos bons e velhos tempos, chorei. Chorei como criança. O peso da minha vida e de minha história se dividiu para molhar meu rosto. E eu que me achava tão novo.

Treinei a manhã toda nos fundos da casa. Tem alguns pesos, dentre outras coisas que utilizo para me manter em forma. Durante á tarde não fiz muita coisa, conversei um bom tempo com minha mãe, dona Viviane para as vizinhas. Ou mãe do assassino, mãe do herói. Não sei o que os outros pensavam, e ela também parecia não querer que eu soubesse. Mas não fazia diferença, nem para mim e nem para ela pelo visto.

Mais uma noite caiu, e, bem, para quê eu tenho campainha em casa mesmo?

- Aqueles seus amigos com sérios problemas mentais estão berrando o seu nome constantemente no portão Chris.

- Avisa eles que já estou indo mãe.

- Eu já fiz isso, e eles começaram á gritar mais e mais alto.

Eu não sabia se ria ou se chorava. Me troquei rapidamente e corri para o portão. Me deparo com os dois em silêncio me olhando com cara de bunda.

- Nós não queríamos correr o risco que você não ouvisse a gente e...

- Ah! Claro. E minha mãe não falou nada?

- Na verdade não ouvimos, pois estávamos gritando alto demais para isso.

- Luan, vou fingir que não era comigo.

E os dois caíram na gargalhada.

O lugar estava completamente lotado. Nunca vi tantas pessoas no Kazebre, mas como era o último dia, me dei ao luxo de suportar tamanha balburdia, afinal, não se tem um fim duas vezes. Fiz questão de comprar os ingressos e mostrar meu RG dessa vez, o que mais uma vez, levou os gêmeos á rirem. Entramos, e me senti completamente indisposto. Tanta gente, não iria demorar muito para alguém vir me aborrecer, ainda mais depois da matéria de ontem na TV.

Com muito esforço, conseguimos ficar ao lado esquerdo do palco, em um enorme amontoado de pessoas. Quando a banda CPM22 subiu ao palco e começou á tocar. Eu não queria me envolver como antes, queria somente cruzar meus braços, segurar uma lata de cerveja ou estar abraçado com alguma garota, enquanto batia os lábios fingindo saber as letras das musicas, e quando chegasse uma parte da musica do qual eu não soubesse, eu virava para procurar alguém, fingindo estar esperando. Mas, quem respeitaria essa minha decisão, quando se esta do lado dos seus melhores amigo? O empurra-empurra estava tão forte, que eu sentia os caras suados encostando em mim, e ainda queria me limpar. Mas não dava, era apertado demais, e então pensei: "Quer saber? FODA-SE!!!". Ali sim, os gêmeos olharam um para o outro indignados com minha atitude, e entraram pra valer no bate-cabeça á nossa frente. E foi ali que lavei toda a minha alma e me diverti como não me divertia há muito tempo.

Passada algumas musicas, resolvi desistir um pouco e sai. Luan e Juan também não aguentariam por muito tempo e me seguiram.

- Vou descansar um pouco. Vou me sentar ao lado da fogueira.

Juan me respondeu:

- Tudo bem, já estamos indo lá.

Me sentei em frente á fogueira, e pela primeira vez, me peguei pensando em coisas boas. Tive a leve e doce ilusão de que tudo poderia não estar perfeito, mas talvez eu finalmente tivesse pensado em algo para tornar tudo melhor.

Foi quando uma mão tocou meu ombro, olhei para trás, jurando ser os gêmeos, mas vi foi um grupo de garotos mal vestidos, que claro, estavam com cara de querer estragar minha noite:

- Chris certo?

- Eu.

- Temos algumas perguntas para lhe fazer.

- Vocês podem tentar o Google.

- Muito engraçado. Mas não vou perder a cabeça com você, porque essa ainda não é a nossa intenção.

- O que vocês querem?

- Já disse, queremos somente fazer algumas perguntas.

- Eu não quero ser perturbado, se não se importam...

Tentei sair, mas esse que falava pelos outros era mais forte, e mais alto. Colocou o braço no meu caminho, e tentou me botar medo.

- Vi você na TV.

- Se me viu na TV, deve saber do que sou capaz.

- Você não matou seu irmão porque quis, matou porque teve de fazê-lo.

- E quem é você para me dizer o que penso ou deixo de pensar.

- Eu sou quem você quiser, se me der a oportunidade de explicar.

- Quero que você morra.

- Você é capaz de fazê-lo?

Olhei para ele com todo o meu ódio, mas quando fui responder, Luan gritou por trás de todos eles:

- Se ele não for, nós seremos

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