Eu teria estranhado se fosse qualquer outro lugar do mundo. Não a Catedral da Sé. Danilo sempre me disse que São Paulo tinha tudo o que uma cidade de primeiro mundo deveria ter, e nosso cartão postal não ficava atrás de nenhum outro no mundo. E agora ele estava destruindo? Estranho. Aprendi á visitar aquela igreja por causa dele. E nunca fui muito religioso.
Ouvi um barulho daqueles rádios, estava em cima do painel do carro, Sil mandou eu pegar e responder:
- Pode falar.
- Onde vocês estão?
- Exatamente naquela avenida que termina no centro da cidade, a radial leste.
- Em que estação? Estamos na Penha.
- Estamos uma estação atrás. Nos esperem ai no acostamento.
Sil encostou o carro, mas nem 3 minutos e o carro dos gêmeos passou por nós, então ela saiu em disparada e ficamos com os carros lado a lado no semáforo:
- Seu irmão endoidou legal agora Chris.
Gritou Luan, que era o passageiro. Eu revidei:
- Não conheço aquele cara, não é meu irmão.
- Agora você entendeu o espírito da coisa.
Sil resolveu interferir:
- Estamos indo lá, mas vamos fazer o que?
- Vamos só nos assegurar que tudo fique bem.
Então o radio de Sil chamou novamente, mas ela mesmo atendeu dessa vez:
- Oi Kau, já esta sabendo de tudo então?
E eu podia ouvir a kauelli no viva voz:
- Sim! Roger ligou a TV e se deparou com Dan no jornal, ficamos apavorados.
- Nós estamos á caminho da catedral.
- Nós queremos ir, mas moramos do outro lado da cidade, vai demorar demais.
- Vocês é quem sabem, eu sinceramente nem sei o porque estou indo. Me preocupo mais com o Chris.
Sil me deu um belo sorriso após ter dito isso, o que me confortou.
- Ele esta ai com você?
- Esta sim.
- Força Chris, seu irmão não é mais o mesmo.
- Ele sabe Kau. Ele sabe.
E seguindo o carro do gêmeos, me bateu uma euforia enorme, eu não sabia o que iria encontrar na catedral, não sabia o que tinha acontecido com meu irmão, não sabia absolutamente nada. Era começo de uma semana, minha vida até dias atrás, eram um sábado interminável diante do computador, vasculhando comunidades na internet, baixando filmes, ouvindo musica, comendo salgadinho e bebendo refrigerante. Eu poderia dizer que estava sentindo falta de tudo isso, mas não. Não estava.
Cada estação de metrô que passava, minha euforia aumentava. Misturada com meu ódio, com minha alegria por estar do lado de pessoas que eu tanto admirei e agora são minhas amigas e sem contar Silvana, o tempo todo do meu lado, não importava a situação. Eu estava pronto, pronto para o que eu não sei, mas estava pronto.
Logo após a ultima estação de metrô antes da praça da Sé. Um transito interminável já tomava conta das ruas do centro da cidade. Então, perto de uma ladeira, estacionamos, para não dizer largamos, o carro em uma calçada qualquer perto de um bar, e começamos a correr.
Eu já estava bem ofegante, quando virei para Juan e falei:
- O que acha que vamos encontrar lá?
- Seu irmão completamente alucinado achando que é algum super herói e socando todo mundo.
Esqueço que eles tentam ser engraçados mesmo quando não devem, mas o que eu poderia fazer? Chorar? Eu já estava completamente conformado com toda aquela situação.
Mas o meu controle ia se perdendo á cada passo, quando comecei a ver os carros parados, com seus motoristas ao lado de fora, apoiados nas portas abertas de seus veículos, e a catedral bem ao fundo, no fim da rua. Eu queria correr mais rápido, mas estava bem cansado, Sil então, nem se fale. Parei um pouco e abracei ela:
- Você esta bem?
- Sim. Só estou cansada.
Juan gritou:
- Vamos estamos quase chegando.
- Já alcanço vocês, podem ir na frente.
Entrei correndo em um bar bem a nossa frente, e tirei todas as moedas que eu tinha no bolso:
- Me dê uma água.
O cara atrás do balcão me atendeu, mas sem olhar pra mim, seus olhos só miravam a TV, que transmitia ao vivo, tudo o que acontecia na praça. Eu vi muitos policiais, alguns deitados na escada da catedral, como se estivessem desmaiados. E então um som ensurdecedor tomou conta de tudo, um helicóptero estava chegado ao local. E então eu perdi completamente o controle de mim mesmo, larguei tudo, corri até Sil e dei a água. Ela bebeu, segurei forte a sua mão, e voltamos a andar em direção a catedral, em passos bem largos.
Quando chegamos bem perto, percebi uma infinidade de curiosos, era realmente muita gente, o que me assustou mais ainda. Chamei os gêmeos no rádio, pois Sil mal podia falar:
- Onde vocês estão? Nós chegamos.
- Nós estamos um pouco mais pra frente, no meio de todo mundo.
- Mas o que esta acontecendo?
- A policia não deixa ninguém passar, nem adianta vocês avançarem.
- E meu irmão?
- Não dá pra ver direito, parece que ele esta dentro da catedral, e ninguém consegue entrar.
- Nós vamos mais pro meio.
- Não! Fiquem onde estão, nós vamos até vocês. Tivemos uma idéia.
Eles nos encontraram rapidamente, seguraram na nossa mão:
- Venham. Tivemos uma idéia, vamos entrar pelo metrô.
Descemos por um lado da estação, mas já havia muitos policiais, mas não nos impediram de entrar. Passamos por uma multidão que se aglomerava perto das catracas, e com muito sacrifício, chegamos ao outro lado.
Havia policiais por toda a escada, e isso me assustava, pois, como um só homem, conseguiria mobilizar tantos policiais. E nossas esperanças foram por água abaixo. Nunca nos deixariam passar. Mas então, Sil tomou a iniciativa, foi até uma das escadas e falou com o policial:
- Nos deixem passar, nós temos a solução pra tudo.
- Do que estão falando? Dêem meia volta e saiam da estação. É o melhor que vocês fazem.
- Meu namorado é o irmão do cara, que esta dentro da catedral.
O policial me olhou meio desconfiado, e outros policiais chegaram perto:
- Me diga o nome completo de seu irmão rapaz.
- Danilo Bianor Gaia.
O policial pegou o rádio, e chamou alguém:
- Senhor, temos o nome completo do cara, é Danilo Bianor Gaia.
Eu pude ouvir a voz do outro lado do rádio:
- Entendido, mas como conseguiram a informação?
- Estou com o irmão dele na minha frente Senhor.
- Diga para esse rapaz subir até o marco zero, vamos tentar usá-lo nas negociações.
O policial então me olhou, colocou a mão em meu ombro:
- Suba as escadas, mas não avance, volte e vá até o marco zero.
Assim que ele terminou de falar, avancei uns três degraus, mas eles barraram Sil e os gêmeos:
- Seus amigos ficam.
Sem exitar eu respondi:
- Ou vamos todos, ou não vai ninguém.
O policial olhou para todos os outros policiais nas escadarias, acenou com a cabeça, e deixou Sil, Luan e Juan passar.
Subimos correndo, já estávamos cansados demais, mas nem parecia. Conforme chegávamos perto do marco zero, que nada mais é que uma pequena escultura com as direções dos estados que fazem limite com São Paulo, que fica exatamente no centro da praça da Sé. O publico de curiosos era incrível, mas todos não passavam dos coqueiros ao redor, a policia não deixava ninguém passar.
Ao olhar para o céu, podia ver alguns helicópteros, de canais de televisão. Imaginei então que minha Mãe já estava desesperada vendo tudo aquilo, se visse eu então, surtaria. Peguei o celular e liguei para casa. Mas depois de muitas tentativas, ninguém atendeu. Quando coloquei o celular no bolso, percebi que já havia um policial falando comigo:
- Você que é o irmão do estranho dentro da catedral?
- Sou eu mesmo.
- Seu irmão sempre teve atitudes suspeitas? Mexe com drogas ou coisa do tipo?
- Nunca Senhor. Sempre foi atleta e nunca sequer fumou cigarro.
- Acha que tem alguma explicação pra isso?
- Isso o que?
- Seu irmão entrou na catedral com varias pessoas lá dentro. Colocou todo mundo pra correr, e se trancou lá dentro. Depois de uma denuncia, uma viatura parou e tentaram tirar ele de lá de dentro, mas aparentemente, seu irmão matou os policiais.
Isso me chocou, mesmo que Dan tenha feito o que fez no ginásio, não matou ninguém lá. Mas o policial queria falar mais:
- Em seguida chegaram mais viaturas, e seu irmão matou todos. E agora nenhum policial quer chegar perto nem das escadas para retirar os corpos dos companheiros que foram mortos e estão nas escadas. E agora, por causa de um só rapaz, seu irmão, o exército esta a caminho. Então eu vou fazer a pergunta só mais uma vez, e espero que você me responda. Tem alguma explicação para isso?
Se eu estava apavorado antes, bem, agora eu estava mais que isso. Gaguejei bastante, mas saiu:
- Meu irmão foi acusado de um assassinato que provavelmente não cometeu, desde então, começou á se revoltar.
- Assassinato de quem?
- Brian Cargnielli.
- Brian da Cargnielli Tecnologias?
Antes que eu pudesse responder, Luan e Juan tomaram a minha frente:
- Exatamente Senhor, o nosso pai.
O policial pensou por alguns segundos, pegou o rádio:
- O cara dentro da catedral é o acusado de matar Brian Cargnielli, procurado já faz algum tempo. Vamos mandar uma equipe e tentar negociar com o garoto usando o argumento de que a acusação será retirada.
Meu irmão jamais cairia nessa, mas eu não iria dar a idéia. Que executassem ela então.
De repente, começaram á sair soldados de todos os lados, do meio dos curiosos entre as palmeiras.
E então, a história se revertia, o desesperado não era mais eu. Luan e Juan passaram a suar frio. Pois vinham em nossa direção, um homem do exército enorme, mas, acompanhando ele, um de cada lado. Mais dois militares, um de azul, e um de vermelho.
2 comentários:
Ai, caramba!
Como eu disse, a cada capítulo que você posta a história fica mais incrível, misteriosa e empolgante!!!! Quero mais! Quero mais!!!
tá atrasado!
bebado
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